Yoga Sutras de Patanjali: a compilação da sabedoria prática e filosófica do Yoga



Os Yoga Sutras são 195 aforismos compilados por volta de 400 dC pelo sábio indiano Patanjali e tratam, em quatro capítulos, de como praticar yoga (abordando a meditação), identificar os resultados e atingir a libertação (o poder da consciência em sua verdadeira natureza).

O anonimato é típico dos grandes sábios da Índia antiga, por isso, pouco se sabe das origens de Patanjali. Acredita-se que ele viveu por volta do século II aC e também teria escrito sobre  Ayurveda (o antigo sistema indiano de medicina) e a gramática sânscrita. Há quem considere que os sutras são resultado de um trabalho de grupo, com a autoria atribuída a algum professor mais velho.

Em nenhum momento Patanjali menciona o nome de um único ásana (postura), apenas especifica as características de um bom ásana. "A postura deve ser estável e confortável" (II.46). Na prática do yoga, ásana é a arte de ficar parado ou em uma postura útil para a flexibilidade e vitalidade do corpo, cultivando a capacidade de perceber a si mesmo. Portanto, a obra Yoga Sutras não é um tratado de hatha yoga (yoga baseado na prática das posturas), mas sim sobre a meditação para que o corpo não perturbe sua mente. Patanjali não aborda o método de transcender pelo corpo. 

Sabemos que um grupo de 84 ásanas clássicos (que teria sido ensinado pelo deus Shiva, patrono do yoga) é mencionado em vários textos clássicos. Apesar disso, no século XX, alguns yoguis publicaram compilações de 66 posturas básicas e 136 variações ou ainda 908 posturas e 1.300 variações. Um número que não é definido, como a mesma liberdade dos yoguis que, há 5 mil anos, elaboraram posturas inspirados nos movimentos dos animais. Por isso, muitas delas trazem nomes como postura do “cachorro”, do “gato”, do “corvo”, da “cobra”, por exemplo.

Voltado a obra, no capítulo I do Yoga Sutra de Patanjali trata do caminho da iluminação e aborda a integração do ser à sua natureza essencial, o fenômeno da consciência (sono, memória, imaginação...) e que para alcançar essa estabilidade é preciso praticar o desapego.

No capítulo II é tratado o caminho da prática, detalhando os meios para atenuar os obstáculos (kleshas) e produzir o êxtase da meditação completa (samadhi). Ele explica que as grandes aflições são resultado da ignorância, egoísmo, paixão, aversão e desejo de viver com apego. “O sofrimento que ainda não veio pode ser evitado” (II.16). A libertação (kaivalya) da ignorância (avidya) é feita por meio do discernimento (viveka). Em seguida, ele relata os estágios para atingir esse objetivo, como os yama (restrições) e nyama (observâncias), princípios universais que alicerçam a vida do yogui.

Os poderes desenvolvidos a partir do yoga por meio da abstração dos sentidos, concentração, meditação e, finalmente, do alcance do samadhi (contemplaçãosão abordados no capítulo III. O processo todo de meditação é chamado de controle da mente (sanyama). Quando se percebe essa realidade ao controlar a mente, transcende-se o processo da natureza.

A quarta e última parte do Yoga-Sutra de Patanjali trata do caminho para a suprema libertação e finaliza esclarecendo que para atingi-la, os gunas (as qualidades de prakriti - aspectos da natureza)  entram em equilíbrio, e purusha (alma suprema) estabelece sua verdadeira natureza, de consciência pura. Perceba que Patanjali trata da filosofia dual (dvaita), propondo a dualidade entre atma (alma), e o divino (Brahman). Por isso, muitos praticantes de yoga que seguem a filosofia não-dual, não tomam essa obra como base de estudos.

Portanto, trazendo para nossa realidade, alcançar essa libertação é o caminho, a prática. Cada um pode começar em diferentes níveis de espiritualidade ou de controle da mente. Patanjali destaca “Mentes diferentes percebem de modo diverso, devido a natureza singular de cada mente que observa” (IV.15). Se você só consegue meditar por um minuto, já é um começo. Se consegue fazer apenas as posturas mais fáceis do yoga, já é a prática em si. Antes de tudo, pratique jñana yoga (o yoga do conhecimento, quando se busca ler e pesquisar sobre o assunto e sobre si mesmo), pois os resultados virão para revelar a sua verdadeira essência.

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