Yoganidrā: a consciência entre o sono profundo e a meditação

O yoganidrā (nidra significa “sono” em sânscrito) é um estado de consciência entre o sono profundo e a meditação. O objetivo não é dormir, mas sim, manter a consciência em relaxamento.  Há uma referência a yoganidrā na série de escrituras chamada puranas (literatura indiana que reúne mitos e lendas copilados da tradição oral entre os séculos 3 e 10 de nossa Era) em que yoganidrā é o sono do deus Vishnu. Enquanto ele dorme nasce em seu umbigo uma flor de lótus, da qual emerge Brahma para criar o mundo, dando início a um novo ciclo cósmico de quatro eras. Uma era cósmica é um ciclo completo de nascimento, vida e destruição do Universo. O yoganidrā é o aspecto microcósmico, humano, do sono de Vishnu.

É importante ter em mente durante o yoganidrā o seu sankalpa, a resolução interior. Trata-se de uma frase curta, afirmativa e no tempo presente. Pode ser um objetivo a alcançar no yoga ou em sua vida. Um exemplo para quem sofre com ansiedade “eu fluo com o ritmo da vida” ou para a depressão “eu me entrego para a vida e acolho o que ela me traz”. Mas é preciso fazer a sua própria afirmação de acordo com a sua necessidade e o que seu coração pede. Pode ser um desejo de saúde, bem-estar ou despertar.

Para cessar o fluxo dos pensamentos, sem cair na tentação de dormir, a técnica costuma ser conduzida com orientações para manter a consciência dos praticantes. Segundo o yogui brasileiro, Pedro Kupfer, no seu livro “Yoga Prático”, o yoganidrā deriva do nyása uma técnica em que a prática durava algo em torno de seis horas sentado ou deitado e totalmente imóvel.  Hoje o tempo varia de 5 minutos a uma hora e se diferencia muito de suas origens associando-se a yogaterapia e incluindo música, aromas e sugestão de visualizações (cachoeiras, praias, florestas etc).

A prática
Para evitar a tentação do sono, aguarde duas ou três horas após as refeições e mantenha o ambiente nem completamente escuro (a não ser que queira induzir ao sono num tratamento de insônia), nem completamente iluminado (a luz ativa demais a mente).

Sinta-se confortável, use um cobertor para evitar o frio que vem do relaxamento do corpo, coloque uma almofada sob os joelhos, um travesseiro fino sob a cabeça. Estenda braços e pernas e mantenha as palmas das mãos viradas para cima para a circulação energética. Observe se a lombar está rente ao chão. Ombros girados para trás e relaxados.

Comece um relaxamento de todo o corpo iniciando pela cabeça, testa, couro cabeludo, boca, orelhas, nariz, olhos e maxilar. Desça para o pescoço, ombros e peito. Em seguida, tome consciência do relaxamento do quadril, coxas, joelhos, pés caídos para os lados. Jogue todo o peso do corpo no chão.

Traga atenção para o seu interior, um refúgio seguro onde você se sente seguro e calmo. Torne-se consciente da sua respiração. Sentir o corpo respirando sozinho com ajuda do abdômen inflando ao inspirar e desinflando ao expirar. Observe o fluxo natural de ar nas narinas. Sinta cada respiração como energia fluindo percorrendo todo o seu corpo.

Sem julgar, apenas observe as sensações e emoções que estão presentes em seu corpo e mente. Conheça as sensações de alegria, bem-estar ou bem-aventurança que emanam do seu coração ou da barriga e se espalham por todo o seu corpo e o espaço ao seu redor. Com cada exalação, experimente sensações de calor, alegria e bem-estar irradiando em todo o seu corpo. Reflita sobre a jornada e como o sentimento de Ser puro, ou consciência pura, está presente trazendo paz profunda a cada circunstância. Imagine integrar esse sentimento em sua vida cotidiana, reconectando-se a essa sensação de equanimidade. 

Volte devagar, mexendo primeiro os dedos das mãos e dos pés, depois punhos e tornozelos até um espreguiçamento natural de todo o corpo. Sinta-se grato por ter aproveitado este tempo para você.

Yoganidrā para fazer em casa! Confira os áudios: soundcloud.com/alefioriyoga

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